O Polo Azulão foi criado a partir de uma construção que tem mais de 10 anos, diante da diversidade musical que a cidade de Caruaru apresenta. Não tenho dúvidas que o movimento musical da cidade do final dos anos 90 foi um dos responsáveis pela existência do espaço.
O debate já existia ainda com Socorro Maciel como Presidenta da Fundação de Cultura.
Em 2012, o espaço foi criado, ainda de forma tacanha, com pouca estrutura, mas avançamos. Neste ano, já apresentamos a necessidade de retirar o palco do galpão da Estação Ferroviária, devido à falta de infraestrutura, situação que só se concretizou em 2015, mediante a mobilização de vários artistas da cidade. Com o “Movimento Música Merece Respeito”, avançamos mais uma vez. Houve melhoria do som, iluminação e o palco saiu do galpão da Estação Ferroviária. Em 2016, tentamos emplacar um edital para o polo com objetivo de tornar a escolha dos artistas mais transparente e republicana. Infelizmente, por decisão política, o edital não andou.
É notório que todo São João sofre com a falta de planejamento e isso se arrasta por várias gestões. No atual momento não é diferente. Os artistas são contratados em cima da hora, sem o devido respeito com a “Prata da Casa”. Sempre me pergunto: “será que a galera que rege o São João sabe como funcionam os bastidores da vida de um artista caruaruense? Contratação de músicos, ensaio, choque de agenda, correria com a burocracia”. De modo geral, esses artistas não têm produtores/ras. Conciliam sua atividade artística com outros empregos e seguem fazendo arte e dizendo ao mundo: “essa é a música de Caruaru”. Bairrismos à parte, é
inegável a qualidade musical que Caruaru vem apresentado nos últimos anos e o
São João é grande vitrine.
A cidade elegeu uma Prefeita com o discurso de gestão inovadora, técnica, moderna e, no final das contas, o que vimos foi uma total falta de habilidade para conduzir um simples edital. Os técnicos falharam? Não houve planejamento? Cadê a inovação? O resultado é que contratamos a mesma empresa por aproximadamente 5 milhões.
Achei massa o lançamento do São João ter sido na zona rural. Remonta a origem da festa, mas precisamos fazer a avaliação se isso funciona publicitariamente. Será que conseguimos atingir o público alvo da festa? Penso que o lançamento do São João é uma grande ação de marketing que deve ter por finalidade vender a festa para fora. Mostrar ao público o quanto é bom vir para Caruaru no São João. Isso traz turistas e divisas para cidade.
O fato é que, no dia do lançamento, as grandes atrações já estavam confirmadas com datas e horários. Fiquei muito feliz ao ver atrações como Chico César e Siba no Polo Azulão. Agrega valor ao palco, mas, infelizmente, dia 15 de maio o artista local não sabia nem se iria tocar, nem o dia, nem o local. Pergunto mais uma vez: “o que faltou? Planejamento?”.
A Fundação de Cultura “inovou” ao apresentar um edital para contratação de artistas. Sou a favor dos editais. Torna o processo de contratação mais transparente. Mas, no caso do edital em questão, faltou transparência. Quem são os curadores? Quais são os critérios? Se der empate, qual será o critério de desempate? Um edital que contempla todas as linguagens sem levar em consideração as especificidades de cada expressão artística. Desse jeito, ficou difícil entender qual era a real finalidade do edital. O Conselho de Cultura apresentou os equívocos do edital e tentou colaborar, mas faltou diálogo entre a gestão e o principal instrumento de controle social da cultura no município.
O fato é que o São João precisa ser repensado. Fico feliz em ver movimentos de descentralização da festa e de retomada do São João na Zona Rural. Durante anos entregamos nosso São João para empresas de produção que deixam a nossa festa cada vez mais plástica e menos telúrica. Penso que a Fundação de Cultura deveria assumir o papel de protagonismo na realização do evento. Profissionalizar cada vez mais a produção local a fomentar a cadeia da cultural na nossa cidade. Esse é o caminho para romper com o mais do mesmo.
Daniel Finizola, é educador e vereador pelo Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.


